quinta-feira, 16 de maio de 2013

Livro: #Poucas palavras



     O Grupo Inquérito ao lançar o terceiro videoclipe intitulado Poucas Palavras, fez um material audiovisual a partir de uma música do disco Mudança, que, por sua vez, nasceu de uma poesia. 
     O video homenageia a atual literatura brasileira, com representantes do hip-hop que estão ajudando a escrever a nossa própria história. É um video todo preto e branco – algo inédito no rap nacional – e que mostra uma nova vertente, ainda pouco explorada, que é esse link com a questão da comunicação.
     Além do clipe, o vocalista do grupo, Renan Inquérito, que também é geógrafo lançou um livro de bolso intitulado #PoucasPalavras também e que segue a era da nanotecnologia num projeto literário-musical. Ele vem pequeno, com frases curtas, muitas retiradas das letras, além de fotos, também em preto e branco. 
      O livro traz ainda ilustrações do graffiteiro Mundano, fotografias de Márcio Salata, prefácio de Sérgio Vaz e orelha de Alessandro Buzo, sem falar que tem pitadas de Marcelino Freire no concretismo dos poemas.

Livro: O movimento Hip Hop, A anti-cordialidad da república dos manos e a estética da violência

    Livro de Rafael Lopes de Sousa, que se torna mais do que um levantamento histórico,a obra busca compreender as demandas que os jovens da cultura hip hop trazem à tona, como eles se tornam porta-vozes da experiência negra e repercutem no cotidiano da periferia de São Paulo nos dias de hoje.
      O primeiro capítulo investiga as bases históricas de formação da cultura hip hop, que segundo Sousa é composta por quatro elementos principais: a música rap (ritmo e poesia na sigla em inglês), a dança break, o grafite e as figuras do DJ e do MC (disc-jóquei e mestre-de-cerimônias). Foi no bairro nova-iorquino do Bronx, na primeira metade da década de 1970, que os quatro elementos se fundiram.
     Por meio de uma pesquisa etnográfica, o historiador apresenta também o percurso do movimento em São Paulo, desde a década de 1970 até a atualidade. Aborda algumas de suas ramificações artísticas como as posses – encontro de grupos de rap – para realizar ações sociais em suas comunidades e promover disputas de dançarinos de break, os b-boys.
     O segundo capítulo busca explicar a efervescência cultural que dominou a cena marginal nos Estados Unidos na década de 1970, resultando em uma intensa troca de experiências entre os jovens latinos e afrodescendentes.
     “Se buscarmos as principais fontes de informação e de formação do grafite, encontraremos fortes traços de influência latina. Os maiores artistas do gênero na época vinham de países como Porto Rico, Colômbia, Bolívia e Costa Rica. Já os primeiros DJs e MCs de rap que surgem nos Estados Unidos são jamaicanos”, afirmou o historiador.
     O break, por sua vez, surge como uma dança de protesto, fazendo alusão aos corpos mutilados dos soldados que voltavam da Guerra do Vietnã, contou Sousa.
     “Alguns DJs perceberam que os encontros de DJs e MCs poderiam avançar para além da diversão e promover a integração entre gangues rivais. A rivalidade e as brigas de rua foram transferidas para disputas de danças”, disse.
     Mais focado na realidade brasileira, o terceiro capítulo faz uma radiografia das transformações urbanas que ocorreram na cidade de São Paulo ao longo do século 20 e discute suas repercussões para os jovens da periferia. De acordo com Sousa, a partir dos anos 1980, os jovens antes confinados na periferia passaram a mostrar sua arte em regiões centrais, como o Largo São Bento, a Praça da Sé ou a Praça Roosevelt.
     “Com a chegada desses e de outros novos atores sociais ao centro de São Paulo, entre eles os punks, começa a haver disputa de espaço e a perseguição policial fica mais intensa. Os jovens da periferia que ousavam circular no centro eram tratados como intrusos, delinquentes e arruaceiros”, disse Sousa.