sábado, 27 de setembro de 2014

Verdadeiro Hip Hop existe?



     Ouço muitas pessoas dizerem que fazem Hip Hop de verdade e acabam depreciando outras pessoas e/ou grupos que dizem fazer o mesmo, mas primeiro me pergunto: porque alguns dizem isto e acabam discriminando outras pessoas, danças e demais posturas e atitudes, que muitas das vezes nem veem ou conhecem?
     Quando iniciei no mundo do Hip Hop na década de 1980, ouvia muito que Hip Hop era a voz daqueles que não eram ouvidos e vistos, era a representação de todos aqueles que a sociedade desprezava e desvalorizava, que era a manifestação de toda e qualquer forma artística  produzida pelo povo e por todos aqueles que faziam da arte uma forma de união, respeito e luta por melhoria na qualidade de vida de uma comunidade e de toda a sociedade como um todo. 
     O Hip Hop era uma filosofia do povo, com o povo e para o povo, independente da cor, raça, classe social e situação financeira, pelo menos foi o que percebi e compreendi estudando a fundo este fascinante mundo, que hoje adentra as nossas vidas através da televisão e cinema, nas favelas, nos condomínios luxuosos, em academias de dança e conquista o mundo de uma forma transformadora e com enorme potencial de tornar o nosso mundo algo melhor de se viver.
     Mas infelizmente o que estamos vendo hoje em dia, principalmente nas pessoas que se dizem engajados no movimento Hip Hop?   Será que Hip Hop são roupas largas e no modelo estrangeiro que muitos criticam, mas copiam?   São gestos sem significação prática nenhuma, poses e caras de pessoas ruins e marginais que não sabem sorrir?  Os praticantes da filosofia Hip Hop se tornaram radicais, burros e cegos que deixaram de acreditar no respeito ao próximo e não aceitam fazer o bem não importando a quem? Será que o Hip Hop moderno se tornou um movimento de pessoas alienadas, que não lêem, estudam e refletem, ao ponto de não conseguirem enxergar a enorme força transformadora que a união e o respeito pregado por tal filosofia tem sobe o mundo?
     Recentemente tenho acompanhado muitos grupos (ou crews, como preferirem), grafiteiros, MC’s, Rappers, DJ’s, MC’s  e dançarinos e programas, eventos e/ou  na internet (diga-se de passagem, um instrumento que muitos não sabem usufruir de forma inteligente para conquistar grandes mudanças) e vejo postagens, reportagens e artigos depreciativos e/ou sem nenhuma fundamentação racional e/ou lógica, depreciando o trabalho de outras pessoas ou grupos, hiper valorizando pessoas que aparecem na mídia e rebaixando toda e qualquer outra pessoa que pratica o Hip Hop junto às pessoas que precisam embora não sejam famosas fazem trabalhos maravilhosamente transformadores, muitos até se considerando donos de verdades demagogas e contraditórias.   Sim, muitos afirmam teorias que não estudaram a fundo o que dizem gostar, que não praticam na íntegra o que cobram e usam o Hip Hop como forma de ofensa àqueles que não partilham da mesma forma de pensar que eles, e o mais impressionante é que são as mesmas pessoas que se colocam como injustiçadas e discriminadas, que ninguém as ouve ou dá oportunidade de mostrarem seus valores.
    Vejo muitos criticando quando algum evento é realizado em palcos, teatros, televisão, boates, museus e estas mesmas pessoas não conseguem enxergar isto de forma positiva acreditando que descaracterizaria o Hip Hop e tudo o que fora criado até então, me faz pensar o rumo que esta cultura vem tomando nos dias de hoje. E por  isto afirmo que deveria haver um  estudo constante dos envolvidos sobre as tradições e de um entendimento de que as manifestações do Hip Hop são consideradas cultura popular e, consequentemente teremos influências da história de um povo, suas tradições e adaptações ao novo, tornando a cultura Hip Hop ainda mais rica do que se pode pensar.
     O fato do Hip Hop estar entrando em tais lugares, considerados elitistas e burgueses, pode significar um olhar diferente à uma cultura discriminada por décadas e que hoje tem oportunidade, finalmente, de mostrar sua força transformadora.  Mas para que isto realmente ocorra não se pode agir como as pessoas que criticamos por anos por não enxergarem o Hip Hop como ele realmente deve ser: uma proposta de união, paz, respeito e igualdade.  Quando se nivela uma filosofia pelo pior que o ser humano pode mostrar, não estaremos nunca melhorando o mundo, estaremos nos tornando o que de pior podemos ser.