Ouço muitas pessoas dizerem que fazem Hip
Hop de verdade e acabam depreciando outras pessoas e/ou grupos que dizem fazer
o mesmo, mas primeiro me pergunto: porque alguns dizem isto e acabam
discriminando outras pessoas, danças e demais posturas e atitudes, que muitas
das vezes nem veem ou conhecem?
Quando iniciei no mundo do Hip Hop na
década de 1980, ouvia muito que Hip Hop era a voz daqueles que não eram ouvidos
e vistos, era a representação de todos aqueles que a sociedade desprezava e
desvalorizava, que era a manifestação de toda e qualquer forma artística produzida pelo povo e por todos aqueles que
faziam da arte uma forma de união, respeito e luta por melhoria na qualidade de
vida de uma comunidade e de toda a sociedade como um todo.
O Hip Hop era uma filosofia do povo, com o
povo e para o povo, independente da cor, raça, classe social e situação
financeira, pelo menos foi o que percebi e compreendi estudando a fundo este
fascinante mundo, que hoje adentra as nossas vidas através da televisão e
cinema, nas favelas, nos condomínios luxuosos, em academias de dança e
conquista o mundo de uma forma transformadora e com enorme potencial de tornar
o nosso mundo algo melhor de se viver.
Mas infelizmente o que estamos vendo hoje
em dia, principalmente nas pessoas que se dizem engajados no movimento Hip
Hop? Será que Hip Hop são roupas largas
e no modelo estrangeiro que muitos criticam, mas copiam? São gestos sem significação prática nenhuma,
poses e caras de pessoas ruins e marginais que não sabem sorrir? Os praticantes da filosofia Hip Hop se
tornaram radicais, burros e cegos que deixaram de acreditar no respeito ao
próximo e não aceitam fazer o bem não importando a quem? Será que o Hip Hop
moderno se tornou um movimento de pessoas alienadas, que não lêem, estudam e
refletem, ao ponto de não conseguirem enxergar a enorme força transformadora
que a união e o respeito pregado por tal filosofia tem sobe o mundo?
Recentemente tenho acompanhado muitos
grupos (ou crews, como preferirem),
grafiteiros, MC’s, Rappers, DJ’s, MC’s e
dançarinos e programas, eventos e/ou na
internet (diga-se de passagem, um instrumento que muitos não sabem usufruir de
forma inteligente para conquistar grandes mudanças) e vejo postagens,
reportagens e artigos depreciativos e/ou sem nenhuma fundamentação racional e/ou
lógica, depreciando o trabalho de outras pessoas ou grupos, hiper valorizando
pessoas que aparecem na mídia e rebaixando toda e qualquer outra pessoa que
pratica o Hip Hop junto às pessoas que precisam embora não sejam famosas fazem
trabalhos maravilhosamente transformadores, muitos até se considerando donos de
verdades demagogas e contraditórias.
Sim, muitos afirmam teorias que não estudaram a fundo o que dizem gostar,
que não praticam na íntegra o que cobram e usam o Hip Hop como forma de ofensa àqueles
que não partilham da mesma forma de pensar que eles, e o mais impressionante é
que são as mesmas pessoas que se colocam como injustiçadas e discriminadas, que
ninguém as ouve ou dá oportunidade de mostrarem seus valores.
Vejo muitos criticando quando algum evento
é realizado em palcos, teatros, televisão, boates, museus e estas mesmas
pessoas não conseguem enxergar isto de forma positiva acreditando que
descaracterizaria o Hip Hop e tudo o que fora criado até então, me faz pensar o
rumo que esta cultura vem tomando nos dias de hoje. E por isto afirmo que deveria haver um estudo constante dos envolvidos sobre as
tradições e de um entendimento de que as manifestações do Hip Hop são
consideradas cultura popular e, consequentemente teremos influências da
história de um povo, suas tradições e adaptações ao novo, tornando a cultura
Hip Hop ainda mais rica do que se pode pensar.
O fato do Hip Hop estar entrando em tais
lugares, considerados elitistas e burgueses, pode significar um olhar diferente
à uma cultura discriminada por décadas e que hoje tem oportunidade, finalmente,
de mostrar sua força transformadora. Mas
para que isto realmente ocorra não se pode agir como as pessoas que criticamos
por anos por não enxergarem o Hip Hop como ele realmente deve ser: uma proposta
de união, paz, respeito e igualdade.
Quando se nivela uma filosofia pelo pior que o ser humano pode mostrar,
não estaremos nunca melhorando o mundo, estaremos nos tornando o que de pior
podemos ser.