É incontestável que o termo Dança de Rua surgiu nas escalas acadêmicas e por pessoas que tratavam a mesma como uma dança sem técnica e por terem como referência a normatização do balé. O termo acabou sendo a identificação de uma dança urbana recheada de códigos e símbolos que fazem referência às classes menos favorecidas socialmente, conhecido como Movimento Hip Hop.
É inegável a necessidade de rótulos ou nomes que identifiquem determinados estilos de dança, assim como uma criança necessita de um nome para ser relacionada aquela imagem.
Hoje percebemos que em muitos eventos, e em algumas universidades, utiliza-se do termo Dança Urbana como forma de identificação desta dança. Novamente vemos os meios acadêmicos influenciando em uma cultura que nasceu nas ruas e comunidades, sendo normatizadas (ou pelo menos tentando) sem conhecimento real da estrutura da mesma. Não há necessidade de menosprezar a influência dos meios, tidos como intelectuais e formais. Mas também não se pode aceitar que se imponha algo sem estudo e reflexão, ou que haja embasamento em outras formas de dança como forma de normatização.
Há realmente uma necessidade que a Dança de Rua tenha pontos em comum, independente da região. Quando isto acontece há uma maior integração entre dançarinos e coreógrafos, alunos e professores e demais segmentos que se utilizam desta linguagem, tornando assim a comunicação mais eficiente. Entende-se que muitos apaixonados e estudiosos da Dança de Rua sintam-se frustrados quando precisam trocar informações e experiências e não possuem pontos em comum (tanto nos aspectos históricos, nomenclaturas utilizadas e princípios técnicos básicos).
Mas porque cobrar um rótulo muito abrangente na Dança de Rua? Quando nos referimos as danças originárias dos centros urbanos e periferias próximas, não podemos descaracterizar nenhuma destas e colocá-las dentro de um mesmo invólucro e dizer que tudo é Dança Urbana, principalmente quando a imagem "vendida" aos leigos é a da Dança de Rua.
O que dizer quanto à estilos de dança como Suingueira, Forró Eletrônico e Axé, que possuem características urbanas e não estão no mesmo contexto da Dança de Rua? Cada qual tem tem suas músicas e formas características de dançar, então porque estão no mesmo "pacote" da Dança de Rua e sendo chamadas de Dança Urbana? Lembrando que a imagem que divulgam da Dança Urbana é a da Dança de Rua...
Pergunto: Nos grandes festivais de nosso país, na categoria Dança Urbana, a suingueira e o axé são considerados e julgados segundo suas características? Estes serão julgados pela ótica da Dança de Rua, Dança Contemporânea ou Balé? Até mesmo pergunto: Serão aceitos nos festivais?
Mesmo eu sendo um apaixonado pela cultura de rua, em especial a Dança de Rua, e achar que que esta deve permitir indexação de elementos de outros estilos de dança, não considero justo estes estilos serem desprezados ou menosprezados em festivais de dança no Brasil, e não serem considerados por uma elite dita intelectual, como Dança Urbana. Quem sabe não seria adequado dividir a Dança Urbana em sub-categorias (Dança de Rua, Axé, etc), inclusive podendo criar uma categoria especial para aqueles que desejam misturar estilos, como por exemplo: um pagode dançado com movimentos característicos de Dança de Rua.
Definitivamente não acredito em pessoas que façam pesquisas de livros e internet (bem como de outros meios de informação e divulgação) e não tenham vivenciado ou se aprofundado em dança e cultura de rua, possam se considerar gabaritados para dar um rótulo tão abrangente quanto o de Dança Urbana. Assim como também não aceito que alguém com ampla experiência em Balé (por exemplo) possa afirmar que sem as técnicas que ele domina, não seria possível adquirir técnicas refinadas para um giro ou salto. E infelizmente são estas pessoas que andam determinando que categoria a Dança de Rua se encaixa e como ela deve ser denominada, caso ingresse em um festival de grande porte, ou até mesmo na universidades.
Concordo quando dizem que a Dança de Rua não deve ser tratada de uma maneira simplista e conservadora, mas também não deve ser considerada como manipulável e alterada para que seja compreendida por uma ótica acadêmica repleta de regras e conceitos outros que não as da referida dança em questão.
Gostaria muito de ver os trabalhos de estudiosos e praticantes de Dança de Rua, sendo considerados nos estudos destes acadêmicos, sem precisar fazer algum tipo de ligação com outra forma de arte "aceitável" pelos estudiosos (já que eles se negam a admitir ignorância).
Quem sabe assim as pessoas possam perceber que a Dança Urbana jamais será Dança de Rua, mas a Dança de Rua será sempre considerada Dança Urbana, e assim possam serem aceitos os demais estilos de Dança Urbana no contexto geral da dança, sem falsos intelectualismos e conceitos medíocres.
Concordo. Mesmo sendo novinha na dança de rua, mas que cheguei até ela por causa do axé. E claro que são elementos que se completam.
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