terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

B-Boy: Malabaristas, Ginastas ou Dançarinos?

Começo este artigo com uma pergunta que para muitos pode parecer absurda, mas infelizmente, muitas pessoas praticam este estilo mas pouco sabem a respeito. Por isto, antes de começar é melhor explicar o que significa "B-Boy". Sim, é preciso explicar porque já ouvi alguns destes dançarinos dizerem tanta besteira que cheguei a me assustar com tamanha falta de estudo de uma atividade que dizem gostarem.

Algumas definições que já ouvi para este termo: "Bad Boy", Beat Boy" e "Break Boy".  De todos estes, apenas o último é o correto, mas poucos sabem explicar o porquê deste termo.  Então aproveito para justificar uma falha em algumas afirmativas. Primeiro, o termo se refere aos praticantes do estilo Break, hoje poucos são os que realmente praticam o Break em sua essência (Popping, Locking e B-Boy), mas o termo serve para identificar os praticantes deste estilo (e isto ninguém pode negar), mas a dizer que dançam Break, isto muitos estão longe de fazer.  Outra justificativa para o termo, é que as pessoas marcavam o ritmo no "Break" da música, ou seja, nas paradas características das batidas das músicas de Hip Hop, quando este surgiu, mas como naquela época (década de 70), os dançarinos dançavam todos os estilos, sem distinção, o termo servia para diferenciar os dançarinos de Hip Hop dos demais.

Agora sim, vamos justificar o porquê da pergunta do título do artigo. Quando a Dança de Rua surgiu, os dançarinos faziam rotinas diferenciadas (Locking, Popping e B-Boy) dentro de suas apresentações e conforme alguns foram se especializando em um ou outro estilo (fora que foram surgindo outras vertentes e outros estilo) alguns se especializaram na parte acrobática da Dança de Rua, sendo conhecidos então como B-Boys.

Os B-Boys mais tradicionais sempre mantiveram uma preocupação em realizar seus movimentos dentro do ritmo da música.  Mas infelizmente (digo isto pois sou simpatizante daqueles que dizem fazer Dança de Rua no ritmo da música - mostra mais sua capacidade técnica do estilo), muitos só  fazem acrobacias de níveis difíceis e dizem que dançam.  Este último para mim deveria estar em uma categoria específica: Performance acrobática de B-Boy.  Não falo para serem excluídos, mas para que estes não entrem em competições e sejam avaliados somente pelas performances acrobáticas (a não ser que seja a intenção do evento), mas deveriam serem avaliados se estes movimentos se encaixam no ritmo da música.

Hoje vejo muitos B-Boys preocupados em fazerem malabarismo e movimentos que parecem mais uma rotina de ginastas de GRD, e não de dançarinos.  Volto a repetir, o dançarino deve estar preocupado com o ritmo que o movimento vai gerar e acompanhar a música, senão fica um movimento "sujo" e somente acrobaticamente mais difícil.  

Os que gostam deste estilo deveriam procurar treinar suas rotinas dentro do ritmo da música, para que assim tenham uma perfeita sincronia técnica de movimentos com a música.  Assim não precisariam serem chamados de malabaristas ou ginastas da Dança de Rua (a não ser que se crie uma categoria específica), e serem respeitados e chamados de Dançarinos.



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Deslocamento coreográfico em Improvisos



Uma das características da Dança de Rua é a improvisação, mas muitos nunca estão atentos para alguns pontos e acabam tornando os improvisos previsíveis e por vezes maçantes.  Por isto é importante que se estejam atentos à alguns detalhes que podem enriquecer este momento muito singular na Dança de Rua.

Em primeiro lugar destacamos os mais conhecidos improvisadores, os B-Boys (ou B-Girls, afinal a Dança de Rua hoje é mais democrática que antes).  Estes dançarinos já tem por tradição o improviso, em rachas (batalhas, ou outro nome que hoje tenha tais eventos - inventam muita nomenclatura para diferenciar alguns eventos), por isso estes já tem em sua proposta corporal alguns gestos que são treinados arduamente de forma a se destacarem e tornarem-se referência para alguns outros, seja como modelo para os iniciantes e amantes deste estilo ou como motivo para serem superados por seus oponentes.  Como geralmente o espaço para improvisações de B-Boy (B-Girl) é limitado e pequeno (se comparados com um palco, por exemplo), estes já tem uma rotina corporal que se adapta à pequenos espaços.  Mas o que estes podem fazer quando se encontram em espaços maiores e livres para suas performances?  

O principal, seja para B-Boys (B-Girls) ou outro dançarino de Dança de Rua, é o aproveitamento de todos os espaços disponíveis para sua performance.  Quando o dançarino aproveita cada pedaço disponível, este mostra-se capaz tecnicamente em muitos aspectos (deslocamento, velocidade de membros, coordenação, ritmo e muitas outras valências importantes para quem dança).  

Uma das regras principais nas improvisações é dançar no ritmo da música, o que infelizmente não acontece com grande parte das performances de B-Boy (B-Girl) pois estes muitas das vezes priorizam os movimentos acrobáticos em detrimento do ritmo que está sendo tocado durante sua performance, muitas das vezes com Top Rocks pobres e sem nenhuma novidade (como se fosse um pré-requisito de ginástica rítmica desportiva) e curtos Footworks (quando estes ainda fazem parte da rotina).  Destaco estas duas rotinas, porque ate à bem pouco tempo estes faziam parte de entradas no trabalhos dos B-Boys (B-Girls), hoje prevalece apenas os Top Rocks e Up Rocks.  

O trabalho de B-Boy (B-Girl) permite um aproveitamento tão grande do espaço (quando este é permitido), seja na forma de Top Rocks, Up Rocks e Footworks, que um bom dançarino sabe ser original em todos estes momentos e se ajustar tanto ao ritmo quanto ao espaço que dispõe para mostrar seu nível técnico.

Quando o improviso é em outros estilos de Dança de Rua, destaco uma atenção especial para os gestos em sincronia com a música e deslocamentos sem caminhadas e corridas (a não ser que esteja dentro de um contexto temático).  O dançarino que sabe improvisar deve sentir a música e transmiti-la com seus gestos, aproveitando cada pedaço disponível, bem como explorar os diversos planos e eixos, ora estando no alto (com saltos e outros recursos) e ora explorando o solo com deslizes, rolamentos e outros.  Esta é uma forma de ter sua rotina valorizada, não somente tecnicamente, mas de forma a manter o público atento ao que está sendo feito.  Nada mais pobre em uma rotina de dança, que um dançarino previsível, sem originalidade nos movimentos, repetitivo e que não explora o espaço que dispõe.

Para quem não gosta de rotinas coreografadas (caso muito comum em B-Boys / B-Girls) recomendo que façam aulas com profissionais competentes e descubram a importância de uma sequência pré-estipulada como forma de enriquecer seu repertório corporal (muitas das vezes restritos a gestos de força e explosão).  Isto faz com que seja desenvolvida uma memória corporal maior, permitindo inclusive que se prepare alguns gestos previamente sem o risco de que este fique ruim quando interligá-los em uma rotina).  em resumo, treinar os mais diversos estilos permite um enriquecimento técnico capaz de elevar o nível técnico de quem gosta de improvisar.

Aproveito para destacar um trecho de um texto muito divulgado na Dança de Rua quando se fala em B-Boys / B-Girls: "...o bom dançarino não cai, improvisa movimentos...", e é por este princípio que as pessoas que são adeptas desta maneira de dançar, devem regrarem-se, afinal improvisar é a arte de criar movimentos que o corpo sente quando ouve uma música e o transmite de forma a ilustrar esta música sem um rotina prévia (coreografia prévia).





terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Deslocamento coreográfico na Dança de Rua


Uma das piores características na Dança de Rua tem sido o deslocamento coreográfico, ou seja, a forma que o(s) dançarino(s) vão de um ponto para outro durante a apresentação.  Na Dança de Rua onde predomina a coreografia (neste caso não estamos falando de improvisos de B-Boy), vê-se uma característica que "suja" a coreografia (a não ser que se tenha um motivo ou uma mensagem com tal deslocamento) que é a simples caminhada.

A caminhada simples para ir de um ponto para outro, parece um recurso de quem não consegue se deslocar fazendo movimentos e intercalando movimentos de pernas diferenciados para chegar à um determinado ponto.  Me perdoe quem gosta deste recurso, mas parece falta de criatividade para atingir um ponto desejado.  As caminhadas e as corridas curtas são duas das principais características da Dança Contemporânea (eu particularmente, não vejo muita necessidade do uso destes recursos, a não ser que venha acompanhada de um roteiro corporal e um contexto que se faça jus a este recurso).

Analisemos então as caminhadas durante as coreografias de Dança de Rua: 
* Alguns utilizam como forma de reunir um grupo em determinado ponto do palco. 
* É uma forma de entrar e sair do palco quando não é necessário em determinados pontos da coreografia.
* Maneira encontrada para formar imagens de forma rápida e sincronizar com determinado momento da música.
* Forma de ganhar impulso para um movimento de força e/ou explosão muscular.
* Integrado como forma ilustrativa dentro do contexto à que a coreografia se propõe a passar para o público (mensagem).

Com relação aos dois últimos pontos colocados, tem realmente uma lógica para que esta movimentação simples aconteça, mas nos três primeiros não há a necessidade de que se façam caminhadas.   Pode-se reunir o grupo em determinado ponto do palco ampliando uma passada, um giro e combinações de movimentos de deslocamento que acrescentam muito mais e tornam a coreografia mais dinâmica e técnica.  Quanto a entrada e saída de palco, sugiro que se for uma simples apresentação de um número coreográfico, que os componentes entrem e se posicionem antes da música começar, caso não seja possível, porque não entrar dançando, saltando, rolando e/ou girando?  Para se formar imagens, fica mais técnico e com nível de dificuldade elevado, se os componentes tiverem disciplina e paciência de elaborar suas movimentações sem o uso da caminhada.  

O problema de muitas coreografias de Dança de Rua é que os coreógrafos imaginam alguns movimentos em determinados momentos da música que impressionem, mas esquecem que a coreografia é um conjunto de movimentos intermitentes com intuito à uma plasticidade corporal que ilustra a música e/ou narra uma história.  Não deve ser tratada como pedaços de coreografias ligadas por caminhadas e pequenas corridas.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Balé é a base da dança ?

Muito se houve falar que o dançarino sem a base do balé, não é um bom dançarino, que é necessário que se faça balé para que se tenha uma técnica apurada e coisas deste tipo.   Mas eu pergunto: porque se faz tal afirmação?

Vejamos por exemplo, um simples giro:  O dançarino em pé, posiciona-se de forma que ambos os pés formem uma base segura e de forma que facilitem o giro para a direção desejada. O corpo ajustado de forma que se faça uma linha de equilíbrio entre o apoio (pé que servirá de pivô do giro) e a cabeça, de forma a provocar o alinhamento do corpo durante o giro.  Os braços abrem-se de forma a facilitar a alavanca inicial do giro e depois movimentarem-se no sentido que provoque um deslocamento do corpo em torno do eixo do corpo e assim ocasionando o giro.  Para que este não provoque tonturas ou desequilíbrio após terminado, utiliza-se do movimento de cabeça, onde esta é a última a sair do estado em que se encontra e a primeira a chegar após o giro na posição em que estava antes.

De forma simples, sem muitos detalhes foi mostrada aqui a técnica básica de um giro.  Isto um profissional competente e que se preocupa com a Biomecânica do movimento e todos os aspectos envolvidos neste movimento, sabe explicar.  Volto a perguntar: Porque algumas pessoas acham que somente o balé é quem pode dar tais bases técnicas?  

Já notaram que muitos dos alunos formados como bailarinos profissionais, desconhecem o porquê dos exercícios que fazem durante as aulas? Hoje noto que muitos Professores(as) apenas repetem exercícios que aprenderam em sua formação como bailarinos e os repassam sem nenhum questionamento por partirem da premissa que balé é a base de tudo, logo, tudo o que é feito durante as aulas que teve deve ser repassado sem questionamentos.  Infelizmente não é só na dança que isto acontece, vemos isto também nas lutas (mas este assunto não cabe aqui no momento).

O bom profissional sabe as intenções do movimento, bem como seus efeitos nas articulações, os exercícios preventivos e os cuidados durante seu aprendizado.  E isto, sinto muito quem não concorda, toda e qualquer dança pode informar, desde que se tenha um profissional estudioso no assunto.

A intenção deste pequeno artigo são poucas:
* Repensar e estudar as técnicas  que são desenvolvidas nos estilos de dança que se deseja aprender;
* Dedicar-se a dança que gosta com afinco de forma a aprimorar a técnica e torná-la tão eficiente quanto qualquer outra;
* A dança tem características em comum, só precisa que se estude as características daquela que se esteja treinando e esta seja feita de forma consciente (sem "adestramentos");
* Buscar suprir falhas de algumas técnicas, procurando estudar, detalhadamente, as de outros estilos de dança.  Nenhuma dança é perfeita... nem o balé (infelizmente para alguns que não conseguem ver a importância de uma integração das técnicas existentes).