quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O que é uma Cypher?



     Hoje, alguns grupos de B-Boys e/ou B-Girls se utilizam de um termo para designar os rachas ou batalhas: CYPHER.    Mas o que vem a ser isto?

     Na verdade o termo é uma designação mais moderna para Battle (termo mais tradicional e amplamente utilizado na Dança de Rua), que veio para substituir a intenção de ter sempre que surgir um vencedor quando os grupos se encontrassem para disputar no estilo B-Boy e por não ter juízes e por estar intimamente ligado à filosofia de paz e união do Hip Hop, esta reunião serve para inúmeras causas, indo de uma simples amostra de suas potencialidades como dançarinos, até mesmo para resolver diferenças pessoais (tanto individuais como em grupo) sem ser preciso utilizar de violência.

     Infelizmente algumas pessoas tem pregado ser esta a origem das batalhas e rachas, mas é um equívoco.   Na verdade, isto se tornou para estas pessoas, uma forma de não reconhecerem que esta modalidade estava se tornando comercial e totalmente oposta a proposta inicial de seu criador (de não violência e da valorização da cultura das classes mais desvalorizadas e desprezadas da sociedade) -  Afrika Bambaata (ou divulgador, como eu prefiro chamar, já que em cultura de rua, não deveríamos dizer que alguém criou algo, porque é difícil ter provas e comprovações objetivas e constatáveis, mas sim, principal divulgador... criadores devem registrar e comprovar suas criações para que não sejam questionados, mas isto é assunto para outro artigo).

     Uma Cypher pode se realizar em qualquer ambiente, seja na rua, em uma quadra, em uma praça, uma calçada, enfim, em qualquer lugar onde as pessoas possam compartilhar este espírito de união através da Dança de Rua, não somente no estilo B-Boy, mas em todos os estilos, sem discriminações.

     O termo Cypher tem como tradução literal o verbo: Cifra,  e não círculo, como alguns pregam.  No substantivo a tradução ganha outra conotação e que parece ter gerado a gíria para este tipo de evento na Dança de Rua, que é o termo Zero ou Nada, pois neste evento não se ganha nada além de respeito, não se usa de violência e finalmente não se deixa de aplicar a filosofia maior do Hip Hop, de paz e união.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ética na Dança (Formação, ensino e direção)



      Na Dança de Rua, infelizmente nos dias atuais, é comum vermos pessoas com poucos anos de estudos, práticas e vivências se intitulando especialistas e ministrando cursos, workshops e workouts simplesmente por estarem em evidência ou por dançarem muito bem.   Não somente com relação à cursos que vemos pessoas que dançam muito bem influindo na formação de dançarinos, mas quando algumas pessoas que se reúnem para montarem grupos e companhias de dança.
      É uma prática comum na Dança de Rua, alguns bons dançarinos acharem-se especialistas quando participam de workshops com algum nome renomado que estes se identificam ou que estejam em alta na mídia.  Lembrando que wokshop é diferente de workout, e muitos realizam workshops (aula com informações técnicas e práticas sistematizadas) como se fossem workout (aula prática, geralmente realizando uma pequena sequência coreográfica sem quase nenhuma informação técnica).
     A situação mais lamentável é ver novos dançarinos procurando informações somente em vídeos e sites da internet, não procurando tirar dúvidas com as pessoas que escrevem tais artigos e desprezando pessoas que tenham muitos anos de experiência e mais conteúdo técnicos e teóricos, mas não possuem a mesma projeção por serem pesquisadores e não excelentes dançarinos e não estarem em projeção em eventos e festivais (que normalmente são competitivos e tendem a acompanhar uma tendência de moda). A desvalorização de pesquisadores e estudiosos na Dança de Rua é um desrespeito à estas pessoas que se preocupam em abordar mais profundamente a arte da Dança de Rua mais e transformá-la em uma dança mais especializada onde pode-se aproveitarem todas as suas técnicas e práticas.
     Quando vemos um novo grupo se formando, geralmente é porque algum dançarino se considera superior à alguma outra pessoa ou grupo em que se encontrava anteriormente, ou porque não concorda com a maneira ou à abordagem que o diretor, do grupo onde este se encontra, faz de alguma proposta ou até mesmo já se considera apto o suficiente para conduzir uma outra proposta segundo sua visão que (geralmente) não é partilhada pelos demais componentes do grupo ou direção do mesmo, ou na pior das hipóteses, se auto promover usando grandes nomes e grandes dançarinos.   Poucos tem a responsabilidade ética de montar um grupo com padrões pré-determinados, com filosofias de trabalho bem direcionadas ou até mesmo com intuitos filantrópicos e/ou de passar adiante suas práticas e experiências na Dança.   Em muitos casos vemos um grupo se formando através de pessoas que já dançam, mas possuem outras profissões (mas se julgam especialistas e questionam outros sem fundamentação) e simplesmente por se identificarem bastante com determinado estilo.
       O pior profissional, seja um instrutor, professor, diretor ou coreógrafo é aquele que julga-se muito bom porque é bom dançarino e por estar acompanhando as tendências da Dança de Rua, porque faz cursos com nomes renomados e que se destacam na mídia, por ter alguns títulos em grandes festivais, por ser jovem (vejo muitos jovens discriminando e não procurando pessoas mais experientes por considerarem "ultrapassados" ou desinformados, ou pior, por não serem "famosos".
      Muitos acreditam ser uma tarefa fácil ensinar, coreografar ou dirigir um grupo, mas quando se encontram frente a frente com algumas dificuldades técnicas, humanas e práticas, acabam por terminarem os trabalhos junto com as pessoas a que estas se propuseram a trabalhar.   O pior tipo de atitude que um diretor ou coreógrafo de um grupo pode ter é chamar alguém de outro grupo para fazer parte do seu grupo, mesmo que não atrapalhe ou entre em conflito com horários e que seja uma oportunidade melhor para este dançarino convidado, mas esta forma anti-ética de agir é mais comum do que se imagina, principalmente na Dança de Rua, e o mais pernicioso ainda é quando o dançarino ainda compactua com este tipo de atitude, realizando treinos "escondidos" sem ao menos dar uma satisfação para o grupo de origem.
      Ficam algumas questões para que as pessoas que estão a frente de grupos e/ou pretendem atuar nesta área de direção, coreografia ou ensino:
* Porque não procurar pessoas com mais qualificações para se informarem dos acertos e erros mais comuns quando na formação de um grupo, de uma coreografia, um espetáculo ou uma apresentação?
* Porque a prioridade é sempre o melhor dançarino e não aquele que se dedica progressivamente às suas melhorias técnicas?
* Porque o dançarinos menos apto ou com menos habilidade é sempre desvalorizado em coreografias?
* Quais os critérios para procurarem informações de melhorias de suas habilidades (coreográficas, didáticas ou diretivas)?  Seria o currículo, a propaganda, o meio que este conviveu, os cursos e apresentações no exterior desta pessoa?
* Porque não trabalhar para transformar um bom dançarino em um ótimo dançarino ao invés de "roubar" ótimos dançarinos de outros grupos?  Seria falta de qualificação pessoal para isto, falta de ética profissional (mesmo quando não se é profissional) ou falta de caráter?

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ética na Dança (Alunos e Dançarinos)



       Quando se fala em ética muitos acreditam ser direcionado somente para os profissionais e pessoas que tem alguma responsabilidade ao ensinar, ou perante algum público ou grupo de pessoas.  Quem trabalha junto à estas pessoas também devem corresponder a esta ética tão cobrada e disseminada.
       Relembrando que a definição de ética é ser um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade sendo uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Logo, a isto se aplica também aos alunos de Dança e pessoas que se dedicam a mesma, de forma a se profissionalizarem (ou não).
       Costumo dizer que a ética se aplica ao aluno (ou dançarino aprendiz) quando o mesmo respeita e considera quem lhe passa todo aprendizado técnico, teórico e prático, considerando a experiência deste especialista como um todo.   Não somente deve ser ético com seus mestres e inspirações (ou modelos de dançarinos), mas com os demais colegas dançarinos, que assim como este, não sabiam muita coisa até que alguém ordenasse suas habilidades ou despertassem suas técnicas básicas.
       Na dança é comum vermos dançarinos que aprendem ou começam a aprender com algum professor e depois procuram outros para aprimorarem-se em suas técnicas.  Até aí tudo muito natural, mas infelizmente muitos parecem esquecer, ou até desprezar àqueles a quem os levou ao caminho do aperfeiçoamento para um grau mais elevado.   A este tipo de atitude anti-ética costumo chamar de ingratidão.
       Os alunos não tem obrigação de estar sempre ao lado de quem os iniciou na dança (ou aperfeiçoou suas técnicas), mas tem sim, a obrigação moral e ética de ser grato e ter caráter de dar alguma satisfação quando almejar algo que esta pessoa não pode mais dar a estes, e não precisarem fazer algo sem o conhecimento destes professores que tanto se dedicaram ao aprimoramento básico ou específico dos mesmos.
      É comum ainda o desrespeito de alunos perante outros, na Dança de Rua, a falta de ética se torna mais evidente em disputas, onde cada dançarino parece desconsiderar o princípio de paz e união que o Hip Hop prega.   Uma vez que uma pessoa nunca será boa o tempo todo, e quando este alguém desrespeita o nível técnico de outros, não coopera para que a Dança de Rua seja uma modalidade respeitada de paz e união,  como poderá ser respeitado quando não tiver mais condições de superar outro dançarino? 
     Reparem que não há dançarino com postura anti-ética que tenha uma imagem duradoura no meio do Hip Hop (assim como nas diversas vertentes da dança), acaba antipatizado por muitos ao ponto de ser esquecido quando surge um novo ícone com técnicas mais depuradas.
      Quando o dançarino inicia uma jornada rumo ao profissionalismo, este é levado a acreditar que deve ser sempre o melhor que puder ser, por possuir qualidades especiais e que estas devem ser melhoradas sempre que possível, mas infelizmente muitos levam este ensinamento para o lado egoísta e mesquinho, ao ponto de passar "por cima" de qualquer um que não possa mais acrescentar algo em seu crescimento, tornando antigos professores, colegas e demais em figuras "descartáveis", ou que estes não são mais necessários ou "obsoletos" para o nível que estes almejam ou se encontram. 
      Percebemos que, muitas das vezes, este dançarino não consegue atingir um nível de maturidade ética que o obrigue a enxergar nuances deste meio, e por vezes acaba se tornando arrogante e esnobe por achar que é melhor ou que sabe mais que muitos.  Culpa de quem ensinou? Algumas vezes sim, mas a maior parte é do próprio aluno que não consegue perceber o quanto a dança é abrangente e infinita em seu aprendizado.
            É comum um dançarino especializar-se em uma modalidade de dança, estilo dentro de uma vertente ou outra qualquer afinidade de dança, e ser considerado um excelente dançarino ou até mesmo modelo e ídolo de muitos, mas ficam algumas perguntas e ao mesmo tempo uma reflexão:
* Será que este dançarino é bom mesmo? Então porque este se considera tão bom, mas não dança todos os tipos de dança tão bem quanto a que este se especializou? 
* Porque tem de apontar defeitos aos outros mas não aceita a opinião ou que lhe seja apontado um erro?
* Porque não quer aprender com outras pessoas, mesmo aquelas que não estão em alta na mídia ou no gosto popular? 
* Porque não sabe respeitar os que dançam menos ou os menos habilidosos? 
* Porque alguns dançarinos não tem consideração e respeito pelas pessoas que lhes ensinaram algo depois que se tornam "estrelas", líderes de grupos, grandes coreógrafos e/ou diretores?

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ética na dança (Professores e Educadores)



      No artigo anterior refletimos sobre a ética que envolve dançarinos, diretores e coreógrafos de Dança de Rua, o quanto estes, por vezes, não tem o mínimo de ética quando o assunto é projeção de um trabalho ou de um nome, não importando nada e nem ninguém desde que o favorecido seja o próprio dançarino.
     Já neste artigo, o assunto é ainda mais delicado, pois envolve a aquisição e ampliação de conhecimentos de pessoas, não somente no que se refere à Dança de  Rua, mas o quanto pode uma arte influenciar até mesmo na formação do caráter de alguém.
     Muitos hoje já reconhecem o poder da Arte de Rua, mais especificamente das manifestações advindas da filosofia Hip Hop, em nosso caso a Dança de Rua, tanto que em programas de alguns governos vemos inseridas as artes do Grafite e da Dança de Rua nas escolas e instituições de ajuda ao menor e ao adolescente.  Infelizmente, muitas das pessoas que ministram tais aulas não possuem muito conhecimento no que diz respeito à práticas pedagógicas, mas por outro lado vemos alguns outros procurando inovar em suas aulas e preocupados com o desenvolvimento de seus alunos enquanto cidadãos.
     Muito da ética deve, e tem, de ser aplicada quando o assunto é reflexão e inclusão social através da Dança de Rua.   Alguns professores e educadores esquecem-se ou por vezes trabalham com seus alunos como se estes fossem um grande grupo com intuitos competitivos e de profissionalização.  Não adianta trabalhar nesta ramificação da Dança de Rua se o professor for uma pessoa repleta de pré-conceitos e radicalismos, porque é através da linguagem de rua e de todos os conceitos implícitos e explícitos de uma sociedade que se leva um aluno à uma reflexão e uma postura mais democrática e consciente de sua função na sociedade.
      Alguns programas são eficientes na recuperação de pessoas relacionadas ao mundo do crime e das drogas, sendo até mesmo, em alguns casos considerada um meio de proximidade com a linguagem dos jovens.  Mas quantos realmente estão aptos para trabalhar com este público?  Não basta, neste caso, ser um excelente dançarino ou possuir carisma junto a crianças e/ou adolescentes.  
     Quem decide trabalhar nesta vertente não pode, e nem deve, esperar um reconhecimento no mundo do Hip Hop, até porque ultimamente o profissional mais valorizado é aquele que possui inúmeros vídeos divulgados na internet, cursos ministrados em grandes eventos de Dança de Rua  ou até mesmo tenha dançado ou estudado em países estrangeiros ou com dançarinos de renome e reconhecimento (principalmente internacional).   Quem trabalha em escolas e outras de cunho educacional não pode ficar parado e limitarem-se ao ambiente onde este é desenvolvido, deve superar a barreira do local e produzir trabalhos e mesclar em eventos, como festivais não competitivos (de preferência para não terem decepções quando depararem-se com pessoas que fazem da Dança de Rua competitiva uma forma de superação e/ou promoção pessoal).
      O maior "crime" que uma pessoa pode cometer neste ambiente onde a educação e formação do indivíduo é prioridade, é criar expectativas técnicas elevadas, elaborar grandes coreografias esperando estar ao nível de grandes grupos e/ou dançarinos, esquecer que a Dança de Rua é uma das mais eficientes formas de arte para conscientização do trabalho de grupo, da funcionalidade do próprio corpo, do meio e das questões sociais, econômicas e políticas do meio em que este se insere. 
      Outra triste constatação é que não há uma integração e quase não há uma formação mais técnica, didática e pedagógica direcionada para estes professores que desenvolvem tais trabalhos.   A ética nesta área diz mais respeito aos professores que são discriminados por grandes dançarinos, coreógrafos e diretores, por produzirem algo que estas pessoas não conseguem ver e nem tampouco reconhecer: cidadãos através da Dança de Rua.
     Costumo dizer que o bom profissional não é aquele que espera fama com o conhecimento que adquire ao longo dos anos, mas aquele que transmite tudo o que aprendeu, colabora para a formação de novos cidadãos dançarinos, profissionaliza e gabarita novos professores (também coreógrafos e até mesmo diretores de grupos), se encontra sempre disponível para cooperar para a ampliação de conhecimentos de  todos aqueles que precisam de uma orientação mais experiente e vivida de situações que até então alguns ainda não puderam ter.  
     Aproveito o início de um discurso do ilustre líder negro americano Martin Luther King: "Eu tenho um sonho..." Um dia ainda vou ver os profissionais da Dança de Rua, competentes e dedicados, terem seus  trabalhos reconhecidos, não por terem aparecido na mídia, por ter ganhado um prêmio importante na arte ou na cultura, ou até mesmo por dançarem muito, mas pelo simples e importante feito de formar seres pensantes e participantes de uma sociedade em constante mutação e sedentos de uma orientação quanto à sua função na sociedade.