segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ética na dança (Professores e Educadores)



      No artigo anterior refletimos sobre a ética que envolve dançarinos, diretores e coreógrafos de Dança de Rua, o quanto estes, por vezes, não tem o mínimo de ética quando o assunto é projeção de um trabalho ou de um nome, não importando nada e nem ninguém desde que o favorecido seja o próprio dançarino.
     Já neste artigo, o assunto é ainda mais delicado, pois envolve a aquisição e ampliação de conhecimentos de pessoas, não somente no que se refere à Dança de  Rua, mas o quanto pode uma arte influenciar até mesmo na formação do caráter de alguém.
     Muitos hoje já reconhecem o poder da Arte de Rua, mais especificamente das manifestações advindas da filosofia Hip Hop, em nosso caso a Dança de Rua, tanto que em programas de alguns governos vemos inseridas as artes do Grafite e da Dança de Rua nas escolas e instituições de ajuda ao menor e ao adolescente.  Infelizmente, muitas das pessoas que ministram tais aulas não possuem muito conhecimento no que diz respeito à práticas pedagógicas, mas por outro lado vemos alguns outros procurando inovar em suas aulas e preocupados com o desenvolvimento de seus alunos enquanto cidadãos.
     Muito da ética deve, e tem, de ser aplicada quando o assunto é reflexão e inclusão social através da Dança de Rua.   Alguns professores e educadores esquecem-se ou por vezes trabalham com seus alunos como se estes fossem um grande grupo com intuitos competitivos e de profissionalização.  Não adianta trabalhar nesta ramificação da Dança de Rua se o professor for uma pessoa repleta de pré-conceitos e radicalismos, porque é através da linguagem de rua e de todos os conceitos implícitos e explícitos de uma sociedade que se leva um aluno à uma reflexão e uma postura mais democrática e consciente de sua função na sociedade.
      Alguns programas são eficientes na recuperação de pessoas relacionadas ao mundo do crime e das drogas, sendo até mesmo, em alguns casos considerada um meio de proximidade com a linguagem dos jovens.  Mas quantos realmente estão aptos para trabalhar com este público?  Não basta, neste caso, ser um excelente dançarino ou possuir carisma junto a crianças e/ou adolescentes.  
     Quem decide trabalhar nesta vertente não pode, e nem deve, esperar um reconhecimento no mundo do Hip Hop, até porque ultimamente o profissional mais valorizado é aquele que possui inúmeros vídeos divulgados na internet, cursos ministrados em grandes eventos de Dança de Rua  ou até mesmo tenha dançado ou estudado em países estrangeiros ou com dançarinos de renome e reconhecimento (principalmente internacional).   Quem trabalha em escolas e outras de cunho educacional não pode ficar parado e limitarem-se ao ambiente onde este é desenvolvido, deve superar a barreira do local e produzir trabalhos e mesclar em eventos, como festivais não competitivos (de preferência para não terem decepções quando depararem-se com pessoas que fazem da Dança de Rua competitiva uma forma de superação e/ou promoção pessoal).
      O maior "crime" que uma pessoa pode cometer neste ambiente onde a educação e formação do indivíduo é prioridade, é criar expectativas técnicas elevadas, elaborar grandes coreografias esperando estar ao nível de grandes grupos e/ou dançarinos, esquecer que a Dança de Rua é uma das mais eficientes formas de arte para conscientização do trabalho de grupo, da funcionalidade do próprio corpo, do meio e das questões sociais, econômicas e políticas do meio em que este se insere. 
      Outra triste constatação é que não há uma integração e quase não há uma formação mais técnica, didática e pedagógica direcionada para estes professores que desenvolvem tais trabalhos.   A ética nesta área diz mais respeito aos professores que são discriminados por grandes dançarinos, coreógrafos e diretores, por produzirem algo que estas pessoas não conseguem ver e nem tampouco reconhecer: cidadãos através da Dança de Rua.
     Costumo dizer que o bom profissional não é aquele que espera fama com o conhecimento que adquire ao longo dos anos, mas aquele que transmite tudo o que aprendeu, colabora para a formação de novos cidadãos dançarinos, profissionaliza e gabarita novos professores (também coreógrafos e até mesmo diretores de grupos), se encontra sempre disponível para cooperar para a ampliação de conhecimentos de  todos aqueles que precisam de uma orientação mais experiente e vivida de situações que até então alguns ainda não puderam ter.  
     Aproveito o início de um discurso do ilustre líder negro americano Martin Luther King: "Eu tenho um sonho..." Um dia ainda vou ver os profissionais da Dança de Rua, competentes e dedicados, terem seus  trabalhos reconhecidos, não por terem aparecido na mídia, por ter ganhado um prêmio importante na arte ou na cultura, ou até mesmo por dançarem muito, mas pelo simples e importante feito de formar seres pensantes e participantes de uma sociedade em constante mutação e sedentos de uma orientação quanto à sua função na sociedade.

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