O livro escrito pelas jornalistas Janaína Rocha, Mirella Domenich e Patrícia Casseano traz curiosidades, como a origem do break,
aquela dança robótica que compõe o hip hop, ao lado do rap e do
grafite. Os primeiros breakers surgiram nas ruas do Bronx
nova-iorquino no fim da década de 60 e protestavam contra a Guerra do
Vietnã por meio de passos de dança que simulavam os movimentos dos
feridos. “Cada movimento do break possui como base o reflexo do corpo
debilitado dos soldados norte-americanos ou demonstra a lembrança de um
objeto utilizado no confronto com os vietnamitas, como o próprio giro de
cabeça”, diz a educadora Elaine Andrade, referindo-se àquele movimento
em que o dançarino fica com a cabeça no chão, mantém as pernas para cima
e gira o corpo, como uma hélice de helicóptero.
O livro dá conta ainda das contradições do
hip hop, como a relação ambígua que mantém com o mercado. Ao mesmo
tempo em que criticam a mídia e tentam conservar uma postura
independente, os artistas reconhecem a importância dos meios de
comunicação para a popularização do movimento. “Se num primeiro momento o
rap disse não, hoje mídia e indústria precisam do rap — e o rap precisa
delas”, escrevem as autoras. “Apropriado pela indústria cultural, o rap
também se apropria dela para garantir espaço para as denúncias”,
reforça a socióloga Maria Eduarda Araújo Guimarães.
Mas o livro tem lacunas. A mais grave
delas talvez seja a ausência da cena hip hop carioca, em franca
expansão. MV Bill, claro, está lá, mas não há referências às meninas do
Anfetaminas e do NegaAtivas, nem às rappers Nega Gizza e Ed Whiller. Não
há uma linha sobre Ryo Radical Raps, Filhos do Gueto, Veredito do
Gueto, Mahal (filho de Luiz Melodia), Buiú da 12, Esquadrão Zona Norte,
Ciência Rimática, Shawlin, O Bando, Inumanos, Marechal e Black Alien.
Também ficou de fora uma das figuras mais representativas do hip hop
carioca, a produtora Elza Cohen, responsável pela principal festa do
Rio, a Zoeira, que desde ontem tem endereço novo: a casa L.A.P.A. O
mercado editorial ainda está devendo uma obra sobre o assunto.
(Trechos da resenha publicada no jornal O Globo de 02/12/2001 pelo Jornalista Mauro Ventura)
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