domingo, 23 de dezembro de 2012

Livro: Hip Hop, A periferia grita

      O livro escrito pelas jornalistas Janaína Rocha, Mirella Domenich e Patrícia Casseano traz curiosidades, como a origem do break, aquela dança robótica que compõe o hip hop, ao lado do rap e do grafite. Os primeiros breakers surgiram nas ruas do Bronx nova-iorquino no fim da década de 60 e protestavam contra a Guerra do Vietnã por meio de passos de dança que simulavam os movimentos dos feridos. “Cada movimento do break possui como base o reflexo do corpo debilitado dos soldados norte-americanos ou demonstra a lembrança de um objeto utilizado no confronto com os vietnamitas, como o próprio giro de cabeça”, diz a educadora Elaine Andrade, referindo-se àquele movimento em que o dançarino fica com a cabeça no chão, mantém as pernas para cima e gira o corpo, como uma hélice de helicóptero.
     O livro dá conta ainda das contradições do hip hop, como a relação ambígua que mantém com o mercado. Ao mesmo tempo em que criticam a mídia e tentam conservar uma postura independente, os artistas reconhecem a importância dos meios de comunicação para a popularização do movimento. “Se num primeiro momento o rap disse não, hoje mídia e indústria precisam do rap — e o rap precisa delas”, escrevem as autoras. “Apropriado pela indústria cultural, o rap também se apropria dela para garantir espaço para as denúncias”, reforça a socióloga Maria Eduarda Araújo Guimarães.
     Mas o livro tem lacunas. A mais grave delas talvez seja a ausência da cena hip hop carioca, em franca expansão. MV Bill, claro, está lá, mas não há referências às meninas do Anfetaminas e do NegaAtivas, nem às rappers Nega Gizza e Ed Whiller. Não há uma linha sobre Ryo Radical Raps, Filhos do Gueto, Veredito do Gueto, Mahal (filho de Luiz Melodia), Buiú da 12, Esquadrão Zona Norte, Ciência Rimática, Shawlin, O Bando, Inumanos, Marechal e Black Alien. Também ficou de fora uma das figuras mais representativas do hip hop carioca, a produtora Elza Cohen, responsável pela principal festa do Rio, a Zoeira, que desde ontem tem endereço novo: a casa L.A.P.A. O mercado editorial ainda está devendo uma obra sobre o assunto. 

(Trechos da resenha publicada no jornal O Globo de 02/12/2001 pelo Jornalista Mauro Ventura)

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